São-Tomé, 17 Nov. 2023 (STP-Press) – “Os países africanos precisam de mostrar uma vontade política mais forte para fazer avançar a industrialização, incluindo a adopção de novas políticas para promover a melhoria da produtividade e aproveitar o potencial de uma população jovem em crescimento”, foi a conclusão unânime a que chegaram os delegados da Conferência Económica Africana de 2023, que terminou ontem na capital etíope, Addis Abeba.

A conferência de três dias teve como lema “Imperativos para o Desenvolvimento Industrial Sustentável em África” e foi organizada pelo Banco Africano de Desenvolvimento, em parceria com a Comissão Económica das Nações Unidas para África e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Esta conferência, a 18.ª edição, reuniu peritos, sector privado, investigadores e jovens para debater os desafios e as perspectivas da industrialização em África.

No discurso de abertura, o Presidente da Etiópia, Sahle-Work Zewde, apontou a importância da industrialização como motor essencial do crescimento económico inclusivo de qualquer país ou continente, sublinhando “a necessidade de mudar a narrativa da industrialização africana para um desenvolvimento industrial inclusivo e sustentável, que agora, mais do que nunca, se torna mais imperativa”.

“Os países africanos precisam construir um sector industrial robusto que possa resistir a choques externos”, enfatizou o presidente etíope. Sahle-Work Zewde acrescentou que “as políticas industriais devem concentrar-se em apoiar o desenvolvimento industrial doméstico e promover a melhoria da produtividade e da competitividade”, ressaltando que a COVID-19 ensinou lições duras sobre a vulnerabilidade da produção global e das cadeias de valor a vários choques.

Por seu turno, o subsecretário-geral das Nações Unidas e secretário executivo da Comissão Económica para África (CEA), Claver Gatete, apelou aos governantes africanos para explorarem as políticas e capacidades institucionais necessárias para a industrialização sustentável, o desenvolvimento inclusivo e a transformação estrutural do continente. Segundo ele, essas politicas ajudaria o continente a reconstruir e sair mais forte das crises, e que a implementação do acordo da Zona de Livre Comércio Continental Africana (AfCFTA) também é crucial.

Gatete disse ainda que o compromisso da CEA em apoiar os países e as comunidades económicas a desenvolver estratégias de implementação dos acordos nacionais e regionais visa ajudar esses países a integrar o acordo AfCFTA em suas prioridades nacionais, assim como a identificar áreas de vantagens competitivas.

Com base numa apresentação, o economista-chefe e vice-presidente do Banco Africano de Desenvolvimento, Kevin Urama, exortou os países africanos a pensarem de forma diferente e a implementarem políticas transformadoras que acelerem a capacidade de produção autóctone e incentivem o consumo de produtos produzidos localmente.

“Os africanos precisam pensar africano, produzir africano e consumir africano para incentivar o desenvolvimento industrial indígena na África”, disse ele.

Urama propôs várias abordagens para acelerar a industrialização e a transformação estrutural na África, destacando entre elas, a implementação de uma política industrial estratégica que incentive a produção e o consumo locais, bem como o desenvolvimento da cadeia de valor nacional e regional.

“Políticas como conteúdo local e franquias podem render frutos de baixo custo. A África tem os recursos naturais necessários para liderar a revolução tecnológica dos veículos elétricos”, disse Urama, que destacou o papel do Grupo Banco Africano de Desenvolvimento, em colaboração com parceiros, no apoio ao processo de industrialização e transformação económica de África através da sua prioridade High 5 Industrialise Africa.

O director do Centro de Serviços Regionais do Escritório Regional do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento para África, Matthias Naab, apelou à promoção de parcerias público-privadas mutuamente benéficas comprometidas com a produção em África.

Ele também saudou o crescente reconhecimento da juventude nas políticas de desenvolvimento. “A inclusão de jovens investigadores africanos nesta conferência é um testemunho do nosso compromisso em aproveitar o seu poder intelectual; Os jovens são os industriais de hoje e de amanhã, e queremos garantir que eles liderem na identificação de caminhos a seguir”, disse.

Em um discurso virtual, Fatou Haidara, vice-diretora-geral da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO), citou a população jovem da África, as pequenas e médias empresas vibrantes, o potencial de energia renovável e os recursos naturais abundantes como o potencial para o sucesso do continente.

“Capacidade de produção local, acesso inclusivo aos mercados financeiros globais, cadeias de valor sustentáveis e ação climática são pré-requisitos necessários para uma África próspera”, disse Haidara, sublinhando o compromisso da UNIDO em apoiar os países a desenvolver capacidade, análise e aconselhamento político baseado em evidências.

A África abriga algumas das economias de crescimento mais rápido do mundo, com uma base atraente de capital humano, dominada por uma base populacional jovem em comparação com as populações envelhecidas de outras regiões, e é, portanto, vista como o futuro mercado de trabalho de fronteira. Apesar disso, o ritmo de industrialização e transformação económica em África continua a ser lento em comparação com outras regiões.

Fim/MF/CEA

DEIXE UM COMENTÁRIO

Digite seu comentário!
Seu nome