São Tomé, 01 Abr (STP-Press) – “Estou a pensar na forma como cheguei ao limite da paciência” – Foi com esta frase que o até então presidente da Associação São-tomense dos Direitos Humanos, o activista nacional, Óscar Baía, anunciava o afastamento da liderança da associação, cargo que desempenhava há mais de vinte anos.
Foi o próprio Óscar Baía que revelou a decisão, na sua página do Facebook, nesta quinta-feira, 30.
Nessa comunicação, Óscar diz que “depois de mais de uma semana desdobrando-me no caso “LUCAS”, fazendo tudo do melhor que há em mim para defender os direitos dessa vítima de destino, sou surpreendido com um vídeo produzido por alguém que nutria muita admiração, respeito e consideração, enfiando-me no mesmo saco de gente desonesta como se não bastasse, a crucificação de que sou vítima nos últimos tempos, através das redes sociais por parte de uns nojentos”.
“Preparava-me para amanhã, esta sexta-feira, conceder uma conferência de imprensa sobre as minhas intervenções no caso “LUCAS”, mas já não tenho força anímica para seguir em frente. A minha luta de mais de vinte anos pelas causas de defesa e promoção dos direitos humanos e pela paz social chegou ao fim. Pensei que nunca chegaria o dia de atirar a toalha ao chão. Afinal aconteceu. Dizer que desta água não beberei é uma teoria falsa”.
“Os meus detratores venceram. Conseguiram apagar a minha voz, mas tenho a sorte de não terem conseguido fazer sucumbir a minha alma”.
“O futuro? Ainda pertence a Deus! Mas uma certeza tenho, sairei deste inferno com a promessa de nunca mais…”.
Nos últimos dias têm surgido muitas informações, desinformações e contrainformações nas redes sociais sobre o estado de saúde do cidadão Bruno Lima Afonso, mais conhecido por Lucas, o único sobrevivente dos quatro civis que, na madrugada de 25 de Novembro de 2022, tentaram assaltar o quartel-general das Forças Armadas.
Os outros três mais um quarto individuo foram mortos nessa tentativa, que ainda está sob a alçada da justiça para se apurar as responsabilidades da autoria das mortes, depois do Ministério Público ter acusado, no dia 17 de Março, um total de vinte e três militares, três dos quais, atlas chefias das Forças Armadas, de estarem envolvidos na morte das quatro pessoas que tentaram assaltar o quartel-general das Forças Armadas, no dia 25 de Novembro, quando estas haviam sido já dominadas e sob a custódia do exército.
Lucas deu entrada no Estabelecimento Prisional, no dia 28 de Novembro de 2022, a fim de aguardar, em Regime de Prisão Preventiva, por estar indiciado da prática de um Crime de Alteração Violenta do Estado de Direito, previsto e punido pelo artigo 391º, do Código Penal, nos Autos de Instrução Preparatória em que é denunciante o Ministério Público.
Desde então têm surgido muitas informações sobre o seu estado de saúde, e os familiares temem pela sua vida. Dizem que o seu estado de saúde exige cuidados redobrados e pedem que lhe seja dado Junta Médica para exterior para ser cuidado.
A ministra da Justiça, Administração Pública e Direitos Humanos, Ilza Amado Vaz, já veio desmentir todas as informações postas a circular nas redes sociais por familiares próximos do Lucas.
Segundo a ministra, “não há nenhum problema com o recluso, de acordo com as informações fornecidas pelos Serviços Prisionais, pelo advogado, pelo representante dos Direitos Humanos e pela Associação dos Direitos Humanos, que foram e viram que, efectivamente, o recluso está nos Serviços Prisionais sem correr perigo de vida”.
“Recebemos o relatório de que, de facto, Lucas não está a sofrer aquilo que tem sido divulgado nas redes sociais, e nós, o Governo, podemos dizer que Lucas tem tido tratamento normal de um recluso, naquilo que são os tratamentos médicos, tem tido acompanhamento do sistema de saúde e quando o sistema não tem resposta encaminhamos para uma clínica privada para acompanhamento”, concluiu a ministra Ilza Amado Vaz.
A ministra dá também conta de que ordenou várias diligências aos demais responsáveis dos serviços prisionais que fizessem o ponto da situação da ocorrência e que também pediu a Direcção dos Direitos Humanos que fizesse uma visita ao recluso, o que foi feito acompanhado do seu advogado e de representante da Associação dos Direitos Humanos.
Por conseguinte, a DGSPRS, também num comunicado, rubricado pelo seu director-geral, o comissário Danilson Cunha, indica que “o recluso Bruno Afonso encontra-se no estado regular de saúde” e que a direcção está disponível para “qualquer informação ou esclarecimento relativo ao recluso, a quem foi feito uma série de exames e consultas desde a sua entrada no estabelecimento prisional, que o mesmo recebe alimentação regular dos familiares, independentemente do direito à alimentação do estabelecimento.
Lucas é filho de um antigo operacional do extinto Batalhão Búfalo da África do Sul, que já protagonizou vários golpes e tentativas de golpes de Estado em São Tomé e Príncipe. Em 2003, o próprio Lucas e o seu pai participaram no Golpe de Estado que derrubou o governo de Maria das Neves.
Fim/MF