São Tomé, 21 Jan 2023 (STP-Press) – A Biblioteca Nacional acolheu, sexta-feira, cerimónias literárias e culturais em homenagem ao centésimo segundo aniversário do nascimento do poeta e geógrafo são-tomense, Francisco José Tenreiro.
Considerado como um dos maiores pensadores são-tomenses do século XX, Francisco José Tenreiro nasceu em São Tomé, em 20 de Janeiro 1921, na roça Boa Entrada, e faleceu em 31 de Dezembro de 1963, em Lisboa, Portugal, aos 42 anos. Foi geógrafo, poeta e docente no Instituto Superior de Ciências Sociais e da Política Ultramarina, actual Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa.
Considerado também o primeiro poeta da negritude de língua portuguesa, a sua primeira obra poética, “Ilha do Nome Santo”, publicada na colecção coimbrã “Novo Cancioneiro”, integrou-se na corrente neo-realista que então surgia em Portugal, rivalizando-se com os poemas dos anos 1950, revitalizadores de figuras, signos e símbolos emblemáticos do mundo negro-africano, vinculados aos modelos tutelares da consciência negra nos Estados Unidos, Cuba ou Haiti e redimensionados pelo Movimento da Negritude que se manifestavam nos três continentes.
Poeta da mestiçagem, do cruzamento de culturas e de vozes, escreve, na “Canção do Mestiço”; “nasci do negro e do branco, e quem olhar para mim é como se olhasse para um tabuleiro de xadrez, e tenho no peito uma alma grande, uma alma feita de adição”.
Em 1953, juntamente com o angolano, Mário de Andrade, publica, em Lisboa, Poesia Negra de Expressão Portuguesa, uma antologia de textos de novos intelectuais africanos. O próprio nome era já provocação. A africanidade implicava a desestruturação da portugalidade, o que, numa época de ditadura, era no mínimo arriscado fazer. É a busca de uma nova consciência africana.
Em 1962, Tenreiro concluiu o seu segundo livro de poesia, “Coração em África”, que já não viu publicado, por ter falecido no ano seguinte. É visto até nos dias de hoje como o homem que usou a poesia para exprimir a nova África, já não a dos postais ilustrados e dos povos, plantas e animais exóticos, mas a de um novo tempo, marcado pela fusão de culturas nativas.
Na homenagem desta manhã, no dia do seu nascimento, defronte à Biblioteca Nacional, a uns metros do único lugar do país, onde está o seu busto, em representação da ministra da Educação, Cultura e Ciências, Isabel Abreu, a assessora do ministério, Lígia Santos, distinguiu-o como “uma figura proeminente da literatura e cultura que pelo seu legado permanecerá sempre na nossa memória, através da sua obra poética e dos seus postais com ilustrações da fauna e flora”, acrescentando que “ele viveu para exaltar a cultura da sua terra natal, se bem que não renegando certos valores adquiridos com a colonização. Por isso, mais do que o poeta da negritude, assume uma postura de defesa de todas as minorias étnicas, como é visível no poema “Negro de Todo o Mundo. A poética de Tenreiro exalta o homem africano na sua globalidade ou seja, a diáspora africana que se propagou por todos os cantos do mundo”, enfatizou.
A cerimónia ficou marcada pela deposição de uma coroa de flor no busto do poeta e por exposição documental, apresentação de jograis, declamação dos poemas e palestra e contou com a presença de algumas individualidades, docentes e alunos das diversas escolas secundárias do país.
Fim/AD/MF STP Press