Por: Telmo Trindade, Jornalista da Agência de Notícias STP-Press

São-Tomé, 28 Oct 2020 (STP-Press) – Um antigo comerciante da cidade de São-Tomé tornado cego a partir do 2007 não concorda com o tratamento que, na sua opinião, está sendo dado a pessoas com problemas de visão e a aquelas idosas, em tempo de covid-19.

Luciano Ceita Vaz do Rosário pertence a ACASTEP, associação de cegos e amblíopes de São-Tomé e Príncipe. “Inscrevi-me em Janeiro de 2020 e fi-lo com o objectivo de contribuir para que a voz dos portadores de deficiência visual pudesse soar mais alto e que seus direitos e anseios encontrassem resposta condígna em tempo devido. Porém, logo a partida percebi que a minha presença era interpretada como sinal de algum protagonismo. Fiquei então com um pé a frente e outro atrás, mas com desejo de a qualquer momento poder ter alguns instantes de diálogo com o Ministro do Trabalho, Solidariedade e Família”.

À STP-Press, Luciano Ceita disse que, principalmente na actual conjuntura da saúde pública, há muita reclamação, muita fome no seio dessa camada. “Se os não deficientes gritam, que dizer dos deficientes. Eu embora cego e com necessidades, posso não ter motivos para tanto alarido. Mas faço-o por solidariedade para com os outros, gente meramente dependente daquilo que o Estado pode dar.

O invisual tocou também na situação dos idosos. “Muitos não têm atenção de filhos ou parentes e isso de cabazes, ao meu ver, tem sido descoordenado por causa dum levantamento algo incoerente. Já agora, sei dum caso duma senhora que em Novembro de 2020 completa 87 anos de idade. Em 2015, foi levada ao Ministério do trabalho (sector de assistência social) para efeitos de inscrição.

Em 2016, seus familiares foram informados de que a mesma se encontrava na lista de espera. Em 2020, com a epidemia, uma das filhas fez-lhe outra inscrição. A resposta é: “a sua mãe continua na lista de espera”.  E como esse, há muitos outros por aí. As pastas são ocupadas para resolução  de problemas e não para complicação dos mesmos”, rematou.

Luciano Ceita foi um grande homem do desporto. Dirigiu o Vitória Futebol Clube do Riboque na época 1989/90 e depois fez com que a zona de Água-Porca, onde também viveu, tivesse hoje uma equipa de futebol com o seu próprio campo, o Grupo Desportivo de Palmar e o campo de Palmar. Palmar, porque o terreno era só de palmeiras e foi ele quem mandou desbravá-lo com a benevolência da equipa Sardinha Caça de Água-Izé que lhe disponibilizou um tractor. “Os da turma Palmar não se lembram mais de mim. Só voltaram a saber da minha existência em 2015 quando precisaram do croqui do campo e do estatuto da equipa para assuntos do clube. Mesmo assim, enviei-lhes uma proposta para que, ainda eu em vida, baptizassem o campo com o nome Campo de Palmar Tio Luciano. 

Luciano Ceita tem história também na área da música. Começou a escrever e a compor a partir 1989/90 para o conjunto África Negra, com a música “Luciano flá ê bê gi dê zá,…. gibô sá tlaxi cá bi” (Luciano informa de que já recebeu a parte que lhe coube,…. a sua não tardará) quando a sua fama de mulherengo levou a que o rotulassem de portador de HIV/SIDA. Do África Negra, passou a compor igualmente para outros agrupamentos como Os Leonenses, Sangazuza e Kwa Non, bem como para cantores individuais.

Fim/TT 

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