Reportagem de Ricardo Neto (Texto) e Lourenço da Silva ( Foto )
São-Tomé 10 Jun 2020 ( STP-Press ) – A obrigatória do uso de máscara, a regra distanciamento e confinamento, como medidas de combate a contaminação da Covid-19, estão em dependência da crença e descrença de muitos cidadãos são-tomenses quanto a existência do novo coronavírus, sobretudo, por maioria de casos serem assintomáticos no arquipélago.
Esta tese de dependência que influência o cumprimento de medidas para evitar a infeção de Covid-19 no território são-tomense foi constatada pela STP-Press em conversas tidas nos últimos dias com feirantes [palaiês em crioulo são-tomense) bem como alguns clientes-compradores no novo mercado são-tomense localizado em Bobo-Foro, nos arredores da capital de São Tomé.
“ Estou a usar e a máscara porque acredito que a doença existe e por isso, temos de evitá-la” disse uma feirante, Ludmila Vaz, vulgo “Mila”, sublinhando que “ temos de respeitar as autoridades e proteger os outros da doença”.
Quanto ao distanciamento esta vendedora de peixe de 41 anos disse que “ isto é um pouco difícil porque outras pessoas vêm juntar-se a nós, mesmo que a gente não queira”, acrescentado que “ e, se afastarmos, estas pessoas não ficam a gostar e podem ganzar-se connosco, pensando que estamos a considerá-las doente de coronavírus”.
Ainda sobre distanciamento “Mila” não poupou críticas a algumas companheiras que desrespeitam a regra da venda alternada imposta pelas autoridades neste mercado como forma de se evitar grandes aglomerações face a pandemia.
Já em contraste com a “Mila”, uma outra feirante Constantina Mota, mais conhecida por “Tina” disse que “ o nosso peixe pode estragar com esta coisa [medida] de venda, um dia sim, um dia não”, argumentando que “ não tenho como conservar peixe por muito tempo e quando vem já sem qualidade, as pessoas não compram e, gente perde dinheiro”.
Quanto ao uso de máscara, San “Tina” de 38 anos que a tinha no queixo disse que “ quando em vez, eu tiro máscara porque não consigo ficar com esta coisa [máscara] por muito tempo, questionando “se esta doença existe mesmo? Com não estou a ver gente doente nem gente a morrer como em alguns países?
Contrariando, claramente, a San “Tina”, um cliente-comprador, Luís de Barros de 53 anos, comerciante, disse que “ parece-me que algumas pessoas não estão a acreditar na doença porque ouvi que a maioria de casos aqui no país são assintomáticos e, me parece que temos talvez algum anticorpo, mas que a doença existe, isto é uma verdade porque há até gente a morrer e gente doente…”.
De Barros que tinha a máscara muito bem colocada numa proteção a rigor contra os vírus acrescentou que “ temos de cumprir as medidas para evitarmos contaminação”, sublinhando que “ algumas pessoas acreditam na doença por isso, estão a obedecer, enquanto outras por não acreditarem, nem máscara, nem distanciamento, nem mesmo confinamento obedecem … pondo vidas em causa e desrespeitando as autoridades”.
“ Nesta crença e descrença só Deus pode nos ajudar e, como somos uma terra Santa vamos vencer esta pandemia” – assegurou Luís Barros no final de mais uma sessão de compras para o seu comércio, tendo na bagagem uma boa quantidade de limão e laranja, alegando, serem “frutos com propriedades nutritivas para ajudar no combate a gripe e tosse” caprichosamente alguns dos sintomas do coronavírus.
Questionada sobre este fenómeno de “crença e descrença” citada por Luís Barros, uma outra cliente-compradora, Adjamila Vila Nova, de 27 anos, sublinhou que “ Kên na quelê vedêfá cá fica cugêlo sê tlôca”, um ditado em crioulo são-tomense, significando que “ Quem não acreditar na verdade, fica por trocar o dinheiro ”.
Fim/RN