Texto de Filipa Coutinho Soares, editado por Marta Daniela Santos enviado a STP-Press

São-Tomé, 16 Mar ( STP-Press ) – Texto de Filipa Coutinho Soares, cientista e primeira autora e investigadora do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais – cE3c de Portugal, editado por Marta Daniela Santos, Responsável pelo Gabinete de Comunicação deste centro ecológico- cE3c na Faculdade de Ciência da Universidade de Lisboa , Portugal, enviado hoje à STP-Press.

Desflorestação facilita expansão de aves em STP

Um estudo recentemente publicado na revista científica Animal Conservation demonstra que a distribuição de aves introduzidas em São Tomé está associada à desflorestação causada pelo Homem. Os investigadores apelam à proteção da floresta nativa da ilha como medida mais importante para garantir a conservação da sua biodiversidade única.

As florestas de São Tomé, em São Tomé e Príncipe, têm uma das maiores concentrações de espécies endémicas – espécies que não se encontram em nenhum outro lugar do planeta. As suas florestas estão entre as mais importantes para a conservação de aves a nível mundial.

Tal como em muitas outras ilhas, em São Tomé foram introduzidas muitas espécies de forma acidental ou intencional, de diferentes grupos taxonómicos, ao longo dos últimos séculos. Perceber o seu impacto nos ecossistemas é fundamental para propor medidas de conservação mais eficazes. Será que estas espécies introduzidas estão a causar o declínio de espécies nativas? Ou estão simplesmente a aproveitar a perda de habitat causada pela ação do Homem – por exemplo pela desflorestação – para alargar a sua distribuição?

Os resultados revelam que aves nativas e introduzidas surgem em locais distintos da ilha. “As aves nativas apareceram sobretudo nas florestas no centro e sul da ilha, nas zonas mais montanhosas e remotas, enquanto que as aves introduzidas surgem nas zonas não florestadas, mais secas e junto da costa. Esta preferência parece estar associada à alimentação – a maior parte das espécies de aves introduzidas alimenta-se de grãos, que aparecem sobretudo em zonas com maior influência humana”, explica Filipa Coutinho Soares, primeira autora deste artigo, investigadora do
Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais – cE3c na Faculdade de Ciência da Universidade de Lisboa , Portugal. “Os resultados revelam que aves nativas e introduzidas ocupam nichos ecológicos distintos, o que reduz a competição entre elas. No entanto, não podemos descartar totalmente a existência de efeitos negativos sobre as espécies nativas”, acrescenta a investigadora.

Desde 2009 que tem vindo a ser recolhida informação sobre a distribuição de aves na ilha de São Tomé. Este esforço tem vindo a ser feito por uma equipa internacional, que contou com o apoio de investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, da BirdLife International e de diversas entidades santomenses, como a Associação Monte Pico e o Parque Natural Obô de São Tomé. Vários pontos de contagem de aves foram realizados por toda a ilha. Em cada um destes pontos, todas as aves observadas ou ouvidas eram identificadas durante dez minutos. Entre as aves introduzidas contam-se algumas espécies que também foram introduzidas em Portugal, como o bico-de-lacre (Estrilda astrild), a viuvinha (Viuda macroura), bispos e tecelões (Euplectes hordeaceusEuplectes aureusEuplectes hordeaceus, etc).

Filipa Coutinho Soares está a desenvolver este projeto como parte do seu doutoramento, no sentido de compreender quais os impactos das espécies introduzidas no funcionamento dos ecossistemas, quais os fatores que limitam a expansão das espécies de plantas introduzidas e, por fim, qual o impacto das alterações históricas do uso do solo na distribuição atual das espécies.

“É importante para a conservação da biodiversidade perceber que as aves introduzidas apenas conquistam novas áreas da ilha depois de haver desflorestação, pois realça a urgência de proteger os ecossistemas nativos, aqueles onde a influência humana é muito reduzida. A longo prazo só conseguiremos garantir a sobrevivência das aves nativas de São Tomé se aplicarmos medidas que se foquem na proteção da floresta”, salienta Filipa Coutinho Soares.

Fim/ FCS e MDS

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